Ubuntu, quando “nós somos um”

Ubuntu: “eu sou porque nós somos”

Quando a piada é contada para um grupo e apenas uma parcela acha engraçado e o restante se sente ofendido, algo não está bem. Quando um símbolo cívico tem conteúdo inadequado, inflama o ego de uns e magoa outros, pode ao meu ver ser revisto.

Assim foi na Austrália com o hino nacional, depois de tantos protestos populares: em vez do “somos jovens e livres”, entrou o “nós somos um”. Esta união que a filosofia africana também prega através do termo “ubuntu”, precisamos na sociedade começando nas casas legislativas. O termo nos chama para ver a humanidade no outro e em si próprio dando a noção de unidade.

Na posse dos vereadores de Porto Alegre, a bancada negra permaneceu sentada durante a execução do hino riograndense gerando protesto de uma vereadora fardada. Matheus Gomes, também eleito, filmou o gesto com os olhos marejados…

A ex-comandante da brigada militar (PM gaúcha) foi no parlatório pedir que o grupo fosse advertido por indisciplina e ainda sugeriu que se retirassem da sala. Após o discurso, Gomes, que é historiador, explicou com um argumento científico as razões do gesto.

Num estado que mata Albertos dentro do supermercado, Janes dentro de casa e massacra Porongos, não há nada de estranho erguer-se para um hino racista!

Penso que o ato da comandante/vereadora é simbólico mostrando o desconhecimento histórico e o mal estar em dividir um espaço de poder legislativo com com grupos sociais historicamente excluídos (racismo…). A necropolítica e o epstemicídio ficam evidentes… Meu sentimento foi de um clima festivo ao ver meus pares pretes ali representados, com roupas coloridas, bandeira LGBTQI+ e turbantes cheios de vida, e ao mesmo tempo constrangedor, pois muitos estavam agora em menor número e tendo que ceder espaço!

Aquele gesto disciplinador foi um protesto de quem se sente acuado, mostrando que para termos pluralidade é importante dividir e legislar para toda a população Porto Alegrense.

Mas voltando ao hino: há tempos, existe uma mudança na letra do por Oliveira Silveira. O poeta gaúcho que liderou o movimento do dia de Zumbi, o vinte de novembro, sugere: “ povo que não tem virtudes, acaba por escravizar”.

Que a gente possa ser livre e ser uno dentro da diversidade. Ubuntu!

#chegadehinoracista