Make an impact, faça a diferença, ordenam os coaches naquele idioma portuinglês.
A gente percebe que no Brasil muita gente trabalha sem amor. A escolha da profissão pra uma minoria privilegiada se dá pela possibilidade de ganhos de toda ordem, mas raramente por paixão.
O sujeito faz medicina ou concurso pra juiz muitas vezes não pelo ofício, mas por puro alpinismo. E pipocam salas de espera verde abacate desmaiado com trilha de elevador e ninguém quer atender no postinho em São Sepé.
Outra moda ou palavra do momento é AFETO. Eventos com afeto, palestras com afeto, comida com afeto, que acabamos todos afetados.
Conquiste seus objetivos de uma vida plena. PLENA é outra palavrinha que pede um plasil e uma vontade de não plenitude.
Quando poderíamos imaginar que os professores e artistas seriam tão atacados? Tem sim uma invejinha aí. Fica fácil chamar todo mundo de vagabundo esquerdopata. O cara acha que trabalha mais porque começa as 7h, hora que muitas vezes acabamos de ir dormir exaustos, mas na verdade ta lotado de tempo ocioso das 8h as 18h.
Tem gente que torce o nariz pra quem trabalha com música, fazendo ou ouvindo, já recebi críticas por trabalhar no chão de casa. O ser humano morre de medo de parecer primitivo. É uma necessidade constante de parecer mais que ser, sofisticado, educado, letrado, ilustrado e o pior APROPRIADO. Acho essa a expressão mais feia da língua inglesa, proper, e eles adoram.
O momento é delicado, muita explicação vazia, muito constrangimento. Tiro o meu chapéu de palha pra quem consegue assistir televisão. Surrealismo e hipocrisia a gente vê por ali.
Eu fico com a pureza das respostas das crianças e com as raras palavras do Luis Fernando Veríssimo ao som do samba enredo da Mangueira.