A vida do outro lado da terceirização


Então foi aprovada a lei da terceirização irrestrita. Pra mim não muda muita coisa, porque PJ já é prática no jornalismo e nas mídias sociais há muito tempo.

Mas eu queria contar pra vocês como é a rotina (e as perspectivas) do lado de cá. Não é uma reclamação, afinal essa é a vida que eu escolhi. Tem lá as suas vantagens, e eu espero nunca mais ter que voltar pro chamado “emprego tradicional”. Mas não é fácil não:

– Eu atendo cinco clientes de forma fixa (fora os jobzinhos curtinhos que pintam aqui e ali). É bastante, e muitas vezes tenho que rebolar pra definir prioridades e definir o que eu faço primeiro, pra fazer tudo bem. E ainda tem as festas que eu produzo.

– Se pintar mais clientes, provavelmente vou encarar mais contratos. Porque a meta é sempre juntar mais grana, afinal se algum cliente cancelar é beijo e tchau. Recebo, no máximo, um muito obrigada pelos serviços prestados.

– Não tem férias. Não tem 13°. Não tem Fundo de Garantia. Não tem Seguro Desemprego.

– Eu começo a trabalhar todo dia às 8h e, nos dias bons, encerro meu expediente às 20h. Minha única “folga” é o horário do almoço que, veja bem, sou eu mesma que preparo.

– Sim, eu tenho liberdade pra sair e tomar um café com uma amiga, ir no cinema de tarde ou resolver alguma treta no banco. Mas isso sempre significa mais tempo na frente do computador no fim do dia.

– Eu trabalho sábado e domingo. E trabalho quando eu viajo também, apesar de sempre tentar deixar bastante coisa adiantada.

– Se eu ficar doente ou me sentir indisposta, trabalho também. Porque se não trabalhar não ganho, simples assim.

– Eu provavelmente não vou me aposentar. Primeiro porque nem sei se vou ter saúde pra chegar na idade necessária, segundo porque se me aposentar vou ter direito a um salário mínimo (e né, não dá pra viver dignamente com um salário mínimo) e a grana ainda não dá pra pagar uma previdência privada. Ou seja, fudeu.

E, veja bem, eu sou bem privilegiada. Tenho curso superior, presto um serviço especializado, posso fazer um pé de meia. Imagina a galera que presta serviços: a faxineira, o porteiro, a cozinheira. Esses vão perder os direitos trabalhistas e não têm nem a possibilidade de “atender” mais de um cliente.

Tão rindo da nossa cara, tão fazendo os brasileiros de palhaços. Todos os direitos que a gente conquistou nos últimos anos estão indo por água abaixo. Então a galera tem que fazer greve geral mesmo. Tem que parar tudo, protestar, queimar lixeira. Nós vamos ficar parados no trânsito? Nossos filhos vão perder um dia na escola? Sim, mas tem muito mais em jogo do que um dia ou dois de transtornos.

E tinha gente achando que o problema eram as pedaladas fiscais…