O Poder do Instante

Visão de dentro de um ônibus
Foto: Jakob Scholz, Pexels.com

Sempre me questionei em silêncio essa referência enlatada que assimilamos de usar a palavra poder, como um adjetivo de afirmação, o quase já desgastado empoderamento, que vem do empower.

Mas tenho observado situações instantâneas e na verdade sempre me causou melancolia, quando alguém no metrô em Nova York, sentado a minha frente, mesmo com zero troca de olhares, pelo menos da minha parte, levantava e saia pela porta. Eu tinha ali a certeza que nunca mais na história da minha vida encontraria essa pessoa.

As vezes era a atriz Alicia Silvestone, com havaianas e pés empoeirados, lendo um New York Times entre bocejos no calor infernal de uma manhã de verão. Ou o ator e escritor Ethan Hawke, que me olhou com a simpatia de quem se percebe reconhecido. Desculpem o momento celebrities.

Mas pode ser também aqui em Porto Alegre, uma cidade bem pequena, olho pelo retrovisor do carro e percebo um olhar mais atento, encaro pelo espelho com o mesmo interesse, até que vem o sinal verde pra nós e a certeza de um sinal vermelho pra um novo encontro, foi ali o mero poder do instante.

Essa certeza absoluta do não encontro, do jamais, as vezes me faz muito pensativo. E quando acontece a troca de olhares mutuamente interessados, a angústia aumenta. Sei que existem os aplicativos de proximidade, mas falo aqui de algo mais profundo, mais fugaz e espontâneo.

A vida é um sopro, como diz a frase, e aquela pessoa que passou de bicicleta no parque com fones de ouvido, é também um sopro, um vento e um sinal de que também devemos aceitar e acolher o nunca mais.

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