Muito se fala em desapego nessa onda consumista e acumuladora que nos meteram. Na contramão do ter, o que temos visto é muita gente tentando viver com menos, ou sendo obrigada pelas circunstâncias a viver com menos.
Por muitos anos comprei revistas de moda e livros de arte. Por trabalhar com imagem, achava que era importante pelo menos ver referências, que acredito até, muito me inspiraram. Passar os olhos e conhecer o trabalho de outros colegas era importante, fazia sentido. Com o passar do tempo (sempre o tempo), perdi o interesse pelo tema, pelo formato, pelo conteúdo que acaba sim, sendo meio vazio. Chega uma hora que a estética pela estética deixa de fazer sentido. Comecei então a separar e a doar as revistas e fiquei com alguns livros mais coerentes pra mim. Abri espaço e libertei minhas ideias com relação a busca por inspiração.
Sigo pesquisando online a cada fase, mas soltei a imaginação, pelo menos estou tentando. Cada vez mais tenho menos roupas e costumo ter poucos pares de tênis que uso até a chegada dos primeiros furos. Respeito quem sente prazer no consumo, mas como é bom abrir o guarda roupa e ver poucas camisas, algumas camisetas, só o necessário. Nunca mais despachei uma mala, viajo só com a mala de mão, até porque defini que não passo mais de 10-15 dias estourando fora de casa. Coisas da idade que avança e te oferece escolhas.
Com o uso do celular, aposentei os relógios, braços livres, nunca fui de pulseiras. No meu espaço de trabalho tenho um depósito que está com os dias contados, vou me desfazer daquilo que não uso, pra dar um outro destino as coisas. É impressionante e libertador tirar esses pesos do caminho, abrir passagem, ganhar espaço.
Fui criado com o necessário, talvez isso também tenha me influenciado a voltar ao menos. Parece que algo interno vem pra substituir toda uma demanda externa de consumo desprovido de sentido. Tentar pelo menos desapegar das coisas e me cercar de pessoas que são importantes pra mim, tem feito mais sentido.
Se pararmos pra observar, precisamos mesmo de muito pouco. Espaço e tempo livre pra pensar parece ser um novo sonho de consumo.