Se a política fosse um ser humano, então o fascismo seria os últimos anos de velhice, mas não só isso, também de decadência, pois muitos chegam à velhice no auge da sua humanidade, consciência e intelectualidade, em pleno vigor e atletismo espiritual, despedindo-se da vida como verdadeiros monges da sabedoria, oradores dos mistérios que desde sempre angustiam o homem.
Outros, porém, evoluem como frutas, onde em algum momento da vida, por algum ressentimento, passam a abandonar toda a busca da virtude para se entregar aos vícios infantis que viveram — e que também nunca viveram — aonde julgam terem sido os tais “bons tempos” e a “utopia inebriante”. É o momento que esses começam a azedar: não ouvem mais ninguém, não leem mais nada, perdem o interesse no que é real e presente para passarem a ser neuróticos pelo passado dos “bons tempos” e ideais desumanos — apodrecem na neurose de um desejo infantil totalmente desalinhado com a realidade ao redor e presente.
Pois bem, são esses últimos que, ao envelhecerem no declive da atrofia e decadência espiritual, na primeira oportunidade em que surge um “herói” a trazer-lhes esperanças pelos “bons tempos” e utopias infantis, abraçam o guru apaixonadamente… “Ele é nosso salvador!”, “Ele é o Messias!”, “Heil!”.
São esses últimos que na podridão que a vida se tornou, chegam naquela dita velhice surda, ranzinza, sobre a qual o tempo fascista finalmente ganha o espaço para desabrochar na política.
O fascismo é isso, a velhice de uma política surda do “tudo ou nada!”, a política do “se hoje nada mais vale a pena, então dai-me de volta todo o meu passado!”.
São os anos da necropolítica, onde a cadela do fascismo late e a decadência só berra e reclama.