O bom freguês


Tem vantagens que a idade oferece entre tantas queixas ao metabolismo preguiçoso e a invisibilidade que se apresenta com tudo depois dos 40.

Sempre me chama a atenção como ficamos invisíveis aos olhos adolescentes, aos olhos dos 18 ou 20 anos. Isso porque nessa idade temos certeza de que seremos eternamente jovens nessa cultura bizarra de apologia ao novo.

Entre as boas da maior idade está a ferragem de bairro, sou freguês da Solange e do Carlos há 15 anos, penduro, reformo e pinto paredes sem parar, na tranquilidade do atendimento personalizado e carinhoso que só no bairro da gente. Na fase adulta, fugimos das redes como São Francisco na Califórnia foge dessas franquias abusivas de estacionamentos.

Na esquina próxima abriu uma dessas farmácias mais frias que sala de cirurgia, com segurança fardado na porta e funcionários meta meta meta, que caminho um pouco mais pra comprar do Cássio e da Mariane, que são irmãos e há muito já atendem toda a família pelo nome. Fora que o Raio de farmácia corporativa, derrubou uma esquina linda do bairro pra fazer essas caixas cúbicas sem amor nenhum.

As malhas que produzimos as roupas também tem um pé no afetivo. As grandes malharias da Serra e Santa Catarina foram substituídas pelo atendimento da Rose.

O bom freguês acompanha a vendedora. A Rose mudou de loja e eu fui junto.

Somos fiéis sem religião, somos os filhos da revolução, boicotando a corporação.

Somos o futuro da nação, geração quarentão.