Todo mundo sabe que a expressão “processo criativo” ficou ultrapassada, mas nada pode ser mais irritante que os termos mudernos “economia criativa” ou “processo criativo” nesses tempos de tão propagandeada crise e conservadorismo.
O economista criativo se dá ao trabalho de voar até Nova York pra correr a São Silvestre só pra postar a foto e posar de classe média alta. Vivemos o processo criativo de criar o personagem, e pior, acreditamos no personagem inventado.
Uma amiga me explicava ontem que o clichê só é clichê porque tem sim muita honkonesa casada com inglês e muita bicha, mas muita, achando chique dar check-in em aeroporto. É o processo criativo do clichê com pausa dramática.
Tem palavra mais feia na americanização da língua portuguesa que workshop? Eu critico e faço uso.
A coisa piora quando naquele “break” para o café, entre um turno e outro do teu workshop, tu percebes que o Station Coffee Shop é no meio do pampa brasileiro.
Para quem tem pais de classe média, média mesmo, fãs do William Waack com aqueles gráficos terroristas que ameaçam os veraneios em Punta e as compras no Zaffari eu sugiro yoga no parque. Isso é criação. Puxa todo o ar, inspira fundo e solta o ar até esvaziar os pulmões e tontear, me ensinava a técnica pra encarar alunos adolescentes com olhos de bocejo, um amigo professor universitário.
Viver é cansativo, mas fica ainda pior quando tu escuta que o problema do assistencialismo (o termo bolsa… tá muito coleção passada) é que os pobres tão querendo até comer costelinha e não querem trabalhar. Eu juro que ouvi isso.
Na economia criativa, o casal se muda pra o hotel durante a reforma do arquiteto e volta com alzheimer. Onde estou? E o marido responde: Amor, acho que estamos no showroom da Dell Anno Home Styling.
Nada pode ser mais crise no Brasil que explicar aos amigos que o projeto de interiores ainda não está pronto. As pessoas tem todo o direito ao ano novo, vida nova, mas posso por favor me dar o direito de nunca, mas nunca terminar a minha casa? Posso usar essa roupa manchada? Tá com cheiro de Confort.
Se o teste vocacional da economia criativa apontar fotografia gourmet, investe na pintura em porcelana.
As frutas feias são as mais doces e o nu Abramović nunca esteve tão careta.