O storytelling venceu, nós perdemos.
Filmes “baseados em fatos reais” tem parte da narrativa inventada para garantir uma boa história. Hoje isso mudou para “inspirado em uma história real” e agora caminhamos para algo ainda mais longe da verdade.
Na Economia da Atenção, o que vale é, óbvio, chamar atenção. Mas não esperávamos que todo o resto deixasse de importar.
Ética, qualidade, verdade ou qualquer outra coisa? Né. Basta chamar atenção.
Farra de fanfics no LinkedIn. Histórias bonitinhas mas inventadas para causar sentimento. Não incomum, o autor assume ser mentira, mas mantém o post por ganhar muitos comentários. Idem para “especialistas” em tecnologia e inovação.
Na publicidade, a campanha fantasma para ganhar Cannes virou render de computador para criar “vídeo viral”. Tem até nome: Fake Out of Home.
Parece piada. Do History Channel (canal de história) que só fala de ETs ao executivo conhecido por dar burnout em todos lançando livro ensinando ter qualidade de vida.
Documentários agora são inspirados em fatos reais. Um antropólogo lançou Caverna de Ossos na Netflix antes do trabalho ser revisado por pares.
Nada disso importa.
Tyson vs YouTuber? O espetáculo mesmo foi antes. O treinador Rafael Cordeiro disse que “hoje é muito mais que dar soco, é como você se expressa”. Será que não virou só isso?
A Netflix entendeu que a dopamina do TikTok não está na entrega de um vídeo bom e sim na expectativa do próximo vídeo ser ótimo. Assim como nas Bets não está em ganhar, mas na possibilidade de ganhar. Se ganhar viciasse, teríamos poucos viciados, afinal, quase ninguém ganha.
A bolsa de Jake Paul está nas top 5 de todos os tempos. A sociedade que passou a escolher médicos pelo Instagram, agora escolhe boxeadores pelo YouTube.
Não vou me espantar se na próxima olimpíada, a nota de corte para nadadores não estiver em seu tempo na piscina, mas no número de likes no TikTok.
Meu nome é Ricardo Cavallini e este post é, infelizmente, baseado em fatos reais.