Vivemos a era da violência do “tem que ter”. Precisamos ter o melhor carro, o mais atualizado celular, o último computador, o corpo em forma. Só essa expressão “estar em forma” já é um equívoco agressivo.
Parece que deixamos de ser, trocando o verbo para ter. Tenho, logo existo. Isso tem gerado muitas frustrações. Um amigo me contou que o sócio está insistindo pra que ele troque o carro, pois os clientes notam. Isso que o dele não tem 3 anos.
É a pressão violenta da aparência. Djavan, cantava em Esquinas nos anos 80, “só eu sei, as esquinas por que passei, sabe lá, o que é não ter, e ter que ter pra dar”. Quando se tem filhos, a pressão externa é ainda maior, pois gera comparações.
Faz parte do jogo, dirão alguns. Mas será que não temos outra alternativa mais inteligente? E se decidirmos pelo ser antes do ter? E se jogarmos toda essa energia da conquista das coisas em algum lugar do passado? Não existe nada de errado em ambicionar, mas será que estamos desejando bem? A ansiedade em alcançar o mesmo tom de grama verde do vizinho está nos matando de exaustão.
A verdade é que tem espaço pra todo mundo, quer entrar nessa ciranda da compra pela compra, vendendo até a alma, tudo bem. Mas vamos aceitar quem percebe a vida de um outro ângulo mais tranquilo e generoso. Por menos eu e mais nós, por menos eu quero e mais eu gostaria.
O número de seguidores e de viewers não te faz uma pessoa melhor. Não precisamos de tantos espectadores. Podemos e devemos nos assistir, nos cuidar, nos entender.
Só a calma pode nos livrar dessa obrigação por uma eterna vitória.