Vamos ao tempo perdido do dia com a polêmica Ed Motta e Raul Seixas. Achei do caralho o que fez o Ed Motta. Sério. Segue o fio pra entender o raciocínio (mas tem que ler tudo, hein!).
Antes de mais nada, sou fã do Raul Seixas. Muito fã. É o maior nome do rock brasileiro em todos os tempos. Krig-ha Bandolo e Novo Aeon são duas obras primas da música brasileira. Li, ouvi e vi muito sobre Raul, que tem uma das histórias mais incríveis nesse meio.
Com isso, como que eu achei do caralho o que o Ed Motta disse? Bem, vejo ultimamente um movimento de as pessoas se sentirem ofendidas quando alguém critica uma coisa que elas adoram. Foi o famigerado ~ episódio Nickelback ~. Sabem como foi?
Num Rock in Rio da vida, show do Nickelback e eu vim aqui no Twitter falar sobre a banda e minhas considerações nada amigáveis sobre ele. Nunca recebi tanta menção. Os fãs (por onde andam, aliás?) me destroçaram. Pelo Nickelback.
A gente fica ofendido quando a ofensa é para algum artista, obra, autor que a gente adora. Por que isso? Ed Motta não ofendeu ninguém que rebateu dizendo que ele é um trouxa, um idiota, um otário. A dor de quem estamos pegando?
Acontece que a gente tem carinho por quem a gente gosta. Uma pena que isso não aconteceu com o Raul VIVO. O que o Ed fez com ele agora não chega nem perto daquilo que mídia e ~ ROQUEIROS ~ fizeram com ele anos 80.
Raul foi descartado pela mídia, humilhado pelos novos fãs do “BROCK 80”, ficou falido, miserável e triste. Quem dava espaço a ele era gente como Bolinha e Raul Gil. No mainstream, ali por 85, 86 e 87, era só RPM, Legião, Paralamas etc. Raul era o velho, o acabado.
Muita gente que criticou Ed Motta fez o mesmo com ele nos 80, encantados com aquele som novo (sic) e original (risos) que as bandas faziam. Ninguém olhava pro Raul, exceto Marcelo Nova, ÚNICO da geração a abraçar o cara e fazer um disco com ele no final de sua vida.
Raul é o curioso caso de quem vira mito depois que morre, como foram Cazuza, Renato Russo, Belchior (que fazia show pra 20 pessoas na virada dos 80 pros 90), Sabotage e Cassia Eller. Quando Raul era vivo, o indignado de hoje achava mais ROQUENROU ouvir, sei lá, KID ABELHA.
Só tem um erro na fala do Ed Motta: ao contrário do que ele sugere, Raul só se fodeu com as gravadoras. Esses CANALHAS esqueceram dele nos anos 80 e enriqueceram com o seu mito, enquanto o homem pensava contra seus vícios. Nunca se valeu de gravadora alguma pra se dar bem.
Sobre o resto, discordo de tudo que ele falou. Mas acho do caralho porque é assim que a gente precisa falar sobre música: é passional, definitivo, radical e nada ponderado. Faz falta isso. A gente é condescendente com muita merda pra não se queimar.
Já entrevistei o Ed e ele foi muito gente fina. Provavelmente, eu falaria isso de uma banda que não gosto. Foi o que ele fez. Uma vez, o Lulu Santos falou mal do Pavement, banda que adoro. Fiquei com raiva dele. Hoje, acho o Lulu sensacional (e continuo adorando Pavement).
Com o Ed, é a mesma coisa. Deixa o cara falar do Raul assim ou de qualquer pessoa. O Tim era assim. E, certamente, essa foi a vez em que Ed Motta mais se aproximou do tio dele em todos os tempos.