Este é um relato completamente isento.
Neutro. Sem corujismos.
Feito para contar a verdade e nada mais do que a verdade sobre as apresentações de final de ano das escolas.
Assim que começa o espetáculo alguns pais não se contém e começam a chorar.
Olhando a performance fica fácil entender o porquê.
São coreografias desencontradas.
Cantos desafinados.
E ocupação do palco que põe em dúvida se Newton estava mesmo certo quando propôs que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço.
Sabe aquela expressão que fala que o tempo passa voando quando a gente se diverte? Não é o caso.
Como um Band-Aid sendo arrancado em câmera lenta, você descobre como Bill Murray deve ter se sentido preso no Dia da Marmota.
A cadeira, geralmente incômoda, fica mais incômoda a cada minuto.
Só não é o fim do mundo porque vocë começa a duvidar genuinamente que aqui exista um fim.
Mas então alguma coisa acontece.
Numa manjedoura metafórica, uma criança aparece mais uma vez para salvar o mundo.
No palco, está alguém que nasceu para estar sob os holofotes.
Se cantasse, sua voz calaria os rouxinóis.
Se dançasse, seria referência para os dançarinos do Bolshoi.
Se fizesse um monólogo, Shakespeare teria que estar em um dia muito inspirado para fornecer um texto à altura.
Mas, não.
Essa criança não quer o sucesso fácil.
Para ela está reservado algo mais desafiador.
O papel de uma árvore.
E ninguém na história dos espetáculos conseguiu interpretar uma árvore de um jeito tão expressivo.
Mesmo parado, atraí os olhares.
Cada pequeno balanço das folhas de papel crepom é de fazer inveja as melhores atuações de Fernanda Montenegro.
Seu filho, a árvore, está onde nasceu para estar.
Sob os holofotes.
Você levanta e, aplaudindo de pé, sabe que se a vida passasse diante dos seus olhos, estes minutos seriam a prova de que tudo valeu a pena.
O próximo ato começa e com ele o martírio das outras apresentações.
Mas você não se importa mais.
Seu estado é de paz e tranquilidade.
Seu TOC ignora a fila desalinhada de alunos que se formou na sua frente.
Você alcançou o Nirvana.
O espetáculo deve continuar.
Como eu disse antes, esse é um relato completamente isento.
Se você tem filhos, pode até não admitir.
Mas tenho certeza que secretamente deve estar concordando comigo.