Hoje recebi minha primeira saudação bolsonarista, aquela “da arminha”.
Na minha querida zona rural, uma das coisas belas é que as pessoas se cumprimentam sem se conhecer. De carro, um aceno. A pé, um bom dia. Hoje, fazendo minha corridinha matutina, um carro passa por mim e vejo a mão do motorista saindo pela janela, indicador e polegar estendidos em forma de revólver, e então com certa lentidão, como a sugerir um tiro em câmera lenta, ele contraiu o polegar e moveu o indicador para cima.
Fiquei pensando a respeito das SAUDAÇÕES e sua importância e consequências na psicologia das pessoas e seu comportamento. Os chineses, por exemplo, com Confúcio, instituíram os “ritos de cortesia”, para que o gesto aos poucos se incorporasse ao espírito, de modo que o curvar-se, por exemplo, um dia tomasse forma de uma genuína humildade e gentileza. Não se pode subestimar o poder do gesto.
Vejamos algumas saudações e seu significados.
No Kung Fu, a saudação se faz com a mão esquerda aberta sobre a direita fechada em punho: para o chinês, o lado esquerdo é a vida e a benevolência, e o lado direito é a morte e a severidade. A mão esquerda aberta, sobreposta à direita fechada em punho, expressa a ideia da NÃO-VIOLÊNCIA.
Os hippies, nos anos 60/70, saudavam com o indicador e médio fazendo um V, significando PAZ e AMOR.
Jesus saudava as pessoas erguendo as mãos e dizendo: “a PAZ esteja convosco”.
Spock, no Jornada nas Estrelas, saudava com a mão aberta, separando os dedos indicador e médio, dizendo “VIDA LONGA E PRÓSPERA”. A saudação foi introduzida pelo próprio ator, Leonard Nimoy, que se inspirou na sua infância, quando ia na sinagoga e via o rabino dar a benção com a mão estendida separando o indicador e médio para sugerir a letra hebraica “Shin” ש, que significa “Deus todo poderoso”.
Um jogador de futebol, ao fazer um gol, uma vez usou uma saudação unindo as mãos em forma de coraçãozinho, para expressar o AMOR a sua filhinha recém nascida, expressão que se popularizou para expressar a ideia de amor.
O simples aceno que as pessoas estranhas se dão na zona rural quer dizer “Olá, bom dia, eu vou bem e você?”, ou talvez signifique meramente algo como “estou aqui e estou vendo que você está aí, e estou feliz com isso”, porque as pessoas se saúdam com alegria.
Mas e quando é outro o sentimento de uma saudação? Quando expressa o comprometimento com uma ideia violenta, com uma ideologia, um sentimento de identificação com um grupo, um espírito de unificação em torno de algo ou, o que é pior, de alguém?
Os adeptos da saudação da arminha gostam de repetir a afirmação do criador do gesto (que se prestou até mesmo a moldá-lo ele mesmo, dedo por dedo, na mãozinha inexperiente de uma criança de três anos): “não se combate violência soltando pombinhas brancas”.
No entanto, me pergunto: quando as pessoas comuns, como eu e você, se saúdam com um arremedo de arma de fogo disparando um tiro, o que se espalhará entre as pessoas?
Certamente não serão pombinhas brancas.