É proibido proibir


A apresentação de “É proibido proibir” acabou se transformando no acontecimento acalorado do ano naquela noite de domingo, 15 de setembro de 1968. No Teatro da Universidade Católica de São Paulo, a música de Caetano foi recebida com furiosa vaia pelo público que lotava o auditório. Caetano revidou irado com um “vocês não estão entendendo nada”. Com roupa metálica e colares muitos, rebolava com a guitarra dos Mutantes, Gil foi atingido por pedaço de madeira e comeu um tomate lançado, jogando a sobra de volta ao público agora de costas pra eles.

Eu nasci uns anos depois, mas já li, vi os vídeos, fui atrás. Tenho pensado muito nessas duas frases, mas “vocês não estão entendendo nada” chega a ser absurda de tão atual. Não to dando uma de esperto, de quem sabe mais que os outros, longe de mim. Mas espiando umas redes amigas, a gente lembra da Marilena Chauí explicando o oprimido defendendo o opressor.

Mas quem não está entendendo nada afinal? Muita gente, começando por mim.

Não entendo e às vezes acho que não to afim de entender a geração millennium e seus games com expressão apática sem brilho no olho num eterno bocejo via app. Desculpa aí, que preguiça. Eles já vieram com os dedinhos na tela, Régis, toda a informação na ponta dos dedos atrofiados.

Mas segura, que vou dos 17 aos 70. Experimenta espiar iPad dos pais e ver aquela turma contra tudo que está aí. Elxs, em maioria esmagadora, pelo menos nas minhas relações, parece que estavam dormindo em um quarto escuro da Casa Cor em 1968.

Tem senhora bem próxima avisando que vai sim votar no candidato fascista, “pode me bloquear”, avisa, sexta ela pede tortura e domingo manda bençãos da catedral. Tô pra ver gente mais filantrópica.

Tem galerê nos jovens 50 da minha terra natal bradando contra candidato presidiário, sendo que o ladrão que ela votou está solto. Tem mãe de amigos próximos curtindo o Heinze e achando que ainda são estancieiros. Levanta desse pelego loiro Alice. Com relho não se educa, se amedronta, isso aí é falta de argumento.

Vai por mim, esquece mais o iPhone em casa e leva um livro pra sala de espera. Nada como o cheiro de mofo das páginas da história.